1º Prêmio Ana Primavesi: conheça Luciane Neves, uma das 10 homenageadas

1º Prêmio Ana Primavesi: conheça Luciane Neves, uma das 10 homenageadas

Fotos: Beto Albert



A cada dia, o protagonismo feminino aumenta na ciência brasileira. Estamos falando de meninas, jovens e mulheres, que pensando no futuro, desenvolvem iniciativas e ações em prol do coletivo. Promovido pelo Grupo Diário, o Prêmio Ana Primavesi busca reconhecer essas atuações em Santa Maria e região. Na primeira edição, 10 profissionais que se destacam na pesquisa, ensino e extensão serão homenageadas. A cerimônia de premiação ocorrerá no dia 31 de julho, no Theatro Treze de Maio. 


Nesta reportagem, conheça a história da engenheira elétrica, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Luciane Neves. 


​​​+ Entre no canal do Diário no WhatsApp e confira as principais notícias do dia


Família

Luciane nasceu em 16 de março de 1971 em Santa Maria. Filha do militar José Carlos Neves e da dona de casa Eni Neves, ela cresceu no Bairro Itararé ao lado dos irmãos, Cristiano e Fabiana. Devido a profissão do pai, a família chegou a morar em outros locais, mas a saudade do lar a fez voltar para a cidade natal. 

– As lembranças que eu tenho da infância são muito boas. Eu estudei na escola Santa Catarina do 3º ao 6º ano do Ensino Fundamental. Brincávamos na rua e tínhamos vários amigos. Sempre foi muito tranquilo morar ali. Então, hoje, felizmente, retornei para o bairro – conta.

No dia-a-dia, Luciane busca fazer planos, manter-se bem informada sobre a área de atuação, preparar aulas e acima de tudo, estar com as filhas Bárbara, 24 anos, e Maria Eduarda, de apenas 13 anos. Para a pesquisadora, as medidas para um futuro mais sustentável precisam começar dentro de casa:

– Em família, gosto de viajar com minhas filhas e estar junto com meus pais, minha irmã e meu cunhado. Sou separada e tenho um companheiro que vive conosco há algum tempo. Formamos uma nova família e crescemos nesse processo de mudanças. Eu sou uma pessoa bastante caseira e gosto de estar em casa junto à natureza. Tenho muito interesse na sustentabilidade e no reaproveitamento de resíduos, então, sempre penso em maneiras de aplicar isso na nossa casa.  


Amor pela tecnologia


Ainda na adolescência, Luciane foi morar com a família em Brasília. Além de finalizar o Ensino Fundamental e começar o Ensino Médio, a capital da nação possibilitou que a pesquisadora tivesse os primeiros contatos com a tecnologia:

– Por volta de 1985, quando os computadores pessoais estavam surgindo, eu tive a oportunidade de fazer um curso de computação, além de algumas visitas ao Ministério da Aeronáutica. Essas situações fizeram com que eu me encantasse pela área da tecnologia. Eu decidi fazer Ciências da Computação, mas não tinha quando eu fiz o vestibular. Então, eu retornei para Santa Maria e fiz o último ano do Ensino Médio na Escola Estadual Manoel Ribas. Como não tinha o curso que eu queria, pensei que o mais próximo era Engenharia Elétrica. Fiz o vestibular e passei. No ano seguinte, o curso de Ciências da Computação passou a ser ofertado pela UFSM, mas não teve jeito. Eu já tinha me apaixonado pela Engenharia Elétrica e não quis trocar o curso. Luciane iniciou a graduação em 1989, concluindo a formação em 1994. No mesmo ano, iniciou o mestrado. Cinco anos depois, veio o doutorado em Engenharia Elétrica. Apesar da brilhante formação, a engenheira elétrica afirma enfrentar desafios até hoje:

– Eu entrei com 26 anos como docente na Universidade, e os primeiros desafios foram me posicionar. Normalmente, questionam se você tem o conhecimento adequado em uma área técnica, como se não pudesse tê-lo. Lidamos com a descrença e precisamos mostrar ainda mais o trabalho do que colegas do sexo masculino para que uma turma de alunos possa prestar atenção e aceitar que uma pessoa jovem esteja lecionando. Ao longo da carreira, acabamos tendo alguns embates, situações sutis em que nos deparamos com machismo ou com situações em que precisamos nos posicionar, senão nossa voz não é ouvida. Muitas vezes, um colega diz a mesma coisa que você, e você não é ouvida. Percebo também que não porque está com uma idade avançada, que se entra numa zona de conforto. Acho que, sendo mulher numa área tecnológica, temos que estar sempre nos posicionando. Esse é o maior desgaste. 

Na UFSM, Luciane desenvolve pesquisas com recursos energéticos distribuídos, entre eles, os veículos elétricos. Na avaliação da pesquisadora, o processo já tem dado resultados, mas a representatividade feminina na ciência ainda faz refletir. 

– Ainda temos muito poucas mulheres na área de engenharia elétrica. Nas turmas em que, às vezes, você tem quinze alunos, mas não passa de quatro o número de meninas. Às vezes, temos apenas uma ou até nenhuma menina na turma. Eu acredito que nosso papel é justamente mostrar que podemos fazer ciência junto com todas as outras atividades que, como mulheres, também assumimos ou muitas vezes dividimos com os parceiros. Com desafios como gravidez, amamentação e a gestão de muitas coisas dentro de casa, temos um trabalho dobrado, mas é possível. Temos que mostrar para essas meninas que a área tecnológica tem uma gama muito ampla de atuação. Desde a geração de energia elétrica pesada, até sistemas com geração em baixa tensão e média tensão, há um campo muito vasto, e precisamos de mulheres, porque é a visão delas que trazem equilíbrio, muitas vezes, em algoritmos que são essencialmente criados pela perspectiva do programador. Se você tem uma mulher para discutir determinado assunto, para oferecer outro ponto de vista, o avanço é inegável –  afirma Luciane, que tem as professoras Nilza Zampieri, Alzenira Abaide e Maria Beatriz Carnielutti como referências em Santa Maria. 

Reconhecimento


Aos 53 anos, Luciane se define como uma lutadora, especialmente por não desistir tão fácil dos próprios ideais. Não é atoa que a trajetória desta mulher é feita de conquistas e reconhecimentos. Em 2021, ela entrou para a lista das 21 mulheres mais influentes na mobilidade. O prêmio idealizado pela provedora francesa Vulog busca celebrar as realizações femininas que têm remodelado os cenários do transporte urbano e rural no mundo. No ano seguinte, Luciane foi agraciada com o prêmio Pesquisador Gaúcho da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (Fapergs). Em entrevista ao Diário, ela falou sobre a importância destes prêmios na carreira:

– Foram muito importantes. Esse prêmio da Fapergs em 2022 veio coroar toda a atividade de pesquisa que desenvolvi ao longo da minha carreira. Venci na categoria Pesquisador na Empresa e hoje, tenho muitos projetos relacionados a empresas e startups. Já o prêmio das 21 mulheres influentes na mobilidade foi algo muito interessante. Surgiu, porque coordenei um projeto da Agência Nacional de Energia Elétrica que permitiu a instalação do primeiro eletroposto rápido de recarga para veículos elétricos no Rio Grande do Sul, aqui na Universidade Federal de Santa Maria. Também foi o primeiro eletroposto rápido em rodovias, localizado em Santa Cruz. Por ser pioneira na instalação, esse reconhecimento foi importante e me abriu portas para conhecer outras pessoas que também compartilham muitas informações. Atualmente, faço parte da plataforma nacional de mobilidade elétrica e tenho contato com pesquisadores de todo o país e do exterior nessa área. 

Em 2024, o reconhecimento veio da cidade natal. Após indicação e diversas etapas, Luciane será uma das 10 homenageadas do 1º Prêmio Ana Primavesi. Para a pesquisadora, a conquista é motivo de celebração.

– Fiquei muito orgulhosa [com a indicação], porque é o primeiro prêmio e sobretudo, inspirado em uma mulher que tem uma trajetória muito bacana ligada à área da sustentabilidade e da natureza. Fiquei ainda mais feliz quando vi todas as agraciadas, que são mulheres com uma história muito bonita, importante e de muita representatividade. Para mim, estar no meio delas e ter sido reconhecida foi muito bonito. Considero esse um dos momentos que nunca irei me esquecer – afirma.  

Almejando presenciar cada vez mais avanços femininos na área que tanto ama, Luciane faz um apelo para meninas, jovens e mulheres que desejam fazer a diferença na ciência: 

– Não desistam no primeiro desafio. Não desistam na primeira dificuldade, no primeiro “não”, porque teremos muitos “nãos” pela frente. Não desistam na primeira situação de desconforto em que forem colocadas porque, em geral, tentam nos colocar em situações assim o tempo todo. Temos que ser fortes. Sempre digo que a cabeça tem que estar muito focada. Precisamos nos conhecer bem para saber como impor limites do que vem de fora e também ultrapassar nossos próprios limites. Assim, conseguiremos fazer o que queremos e não ficarmos lamentando depois por não ter conseguido. Acredito que nossa força e nossa perseverança são fundamentais para as conquistas que alcançamos. 


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

POR

Arianne Lima

arianne.lima@diariosm.com.br

Anterior

Trechos de rodovias federais na região central do Estado vão receber reparos a partir desta segunda-feira

Mais de 500 mil pessoas estão sem luz no RS, informa RGE Próximo

Mais de 500 mil pessoas estão sem luz no RS, informa RGE